quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

FEIJOADA DO BOLINHA PARA 6 PESSOAS

Esta é a receita da mais elogiada feijoada de São Paulo. A tradicionalíssima feijoada servida no Restaurante do Bolinha, que fica na Av. Cidade Jardim, 53, em São Paulo.



RECEITA DE FEIJOADA - p/ 6 pessoas
Ingredientes
200 g. de carne seca bovina
200 g. de costela de porco salgada, ou defumada
200 g. de pé de porco salgado
100 g. de rabo de porco salgado
100 g. de orelha de porco salgada
150 g. de lombo de porco defumado ou salgado
100 g. de paio
100 g. de lingüiça portuguesa
100 g. de língua de boi defumada
050 g. de bacon

900 g. de feijão preto
200 g. de cebola picada (para o tempero do feijão)
100 g. de alho picado (para o tempero do feijão)
006 fls. de louro (para o tempero do feijão)
002 un. de laranjas com casca (bem lavadas)

Preparo
Limpar bem as carnes salgadas, tirando o excesso de gorduras e nervuras, limpando os pêlos e colocando-as de molho em água por 24 horas, trocando-se a água três a quatro vezes durante este período.
Ferva as carnes salgadas em peças inteiras, durante mais ou menos 20 minutos em fogo forte, e jogue a água fora, pois nela está todo o excesso de gordura.
Coloque então as carnes para cozinhar de forma definitiva, já com o feijão, as folhas de louro e as laranjas cortadas em metades, na seguinte ordem: carne seca, pé e orelha. Meia hora depois coloque a língua, o rabo e a costela, e após meia hora, coloque o lombo, a lingüiça, o paio e o bacon, cuidando para tirar e jogar fora, durante todo o cozimento, a gordura que for subindo à superfície.
Em uma frigideira, doure bem a cebola e o alho em duas xícaras de óleo previamente aquecido, colocando na panela do cozimento, junto com as últimas carnes para cozinhar, retirando antes as metades das laranjas, que já cumpriram a sua missão de ajudar a cortar a gordura das carnes.
Após duas horas comece a testar o grau de cozimento das carnes com o garfo, pois nem todas chegam ao grau de maciez ao mesmo tempo, retirando e reservando as que já estiverem no ponto.
Quando todas as carnes e o feijão estiverem no ponto, retire e corte as carnes em pedaços pequenos para servir, voltando para a panela com o feijão e cozinhando por mais 10 a 15 minutos em fogo brando.
Sirva com arroz branco e couve refogada no azeite e alho, e uma bela farofa de mandioca.


Uma brevíssima história da feijoada




MITO: “A feijoada, um dos pratos mais famosos da culinária brasileira, se originou por meio dos costumes dos escravos africanos. O prato consiste na mistura de feijão preto, carne de porco, farofa, entre outros ingredientes.
Na época da escravidão, os senhores de escravos não comiam as partes menos nobres do porco, como orelhas, rabos ou pés, e davam tais partes aos seus escravos.
Como a alimentação dos mesmos era baseada apenas em cereais, como milho e feijão, resolveram pegar as partes do porco que eram rejeitadas e juntá-las com o feijão, cozinhando tudo em um mesmo recipiente, além de adicionar água, sal e pimentas diversas à mistura. Estava feita a primeira feijoada.”
VERDADE: Foi assim que muita gente aprendeu na escola ou na internet sobre a criação da feijoada. Só que esta história não tem a menor conexão com a realidade.

MITO: Os portugueses “não comiam as partes menos nobres do porco, como orelhas, rabos ou pés, e davam tais partes aos seus escravos.”
VERDADE: Nada disso. Estas partes do porco, e inclusive suas tripas e vísceras, eram e são consideradas iguarias pelos europeus. Eram servidas aos aristocratas em várias preparações e continuam a fazer parte da culinária de Portugal, Espanha, Itália e outros países europeus.

MITO: Os escravos africanos juntavam as “partes rejeitadas do porco” com feijão, água, sal e pimentas e cozinhavam tudo junto.
VERDADE: A alimentação básica dos escravos africanos era o feijão preto misturado com farinha de mandioca. O milho também podia fazer parte de sua dieta na forma de angu ou como broa. Frutos e outros vegetais disponíveis também podiam compor a alimentação dos escravos. É preciso ressaltar que a alimentação dos escravos foi diferente em diferentes locais e momentos. O que os escravos comiam durante o Ciclo da Cana de Açúcar e do Ouro, nas lavouras, nos engenhos e nas minas de ouro e pedras preciosas no Brasil Colonial, era muito diferente do que comiam os que trabalhavam nas plantações de café em São Paulo ou nas cidades de Salvador ou Rio de Janeiro, à época do Brasil Imperial. Além disso, muitos dos escravos africanos eram muçulmanos ou influenciados pelos preceitos muçulmanos, o que os impedia de consumir carne de porco.

Como surgiu a feijoada brasileira

Até onde se sabe os primeiros cozidos de feijão com carne eram consumidos pelos soldados do Império Romano. Cozidos de carnes com legumes são mencionados como alimentos há milênios em muitas culturas. O uso de grãos com legumes surge no preparo do puchero espanhol, com grão-de-bico e carnes, e o francês cassoulet preparado com feijão branco e carnes de pato ou ganso, cortes do porco e linguiça ou presunto, carne de porco, cotechino e pato. No Oriente Médio encontramos um prato muito tradicional feito com feijão branco e carne de carneiro. E em Portugal temos a Feijoada Portuguesa, preparada com feijão vermelho ou branco e que geralmente inclui outros vegetais alem das carnes de boi e porco. Inspirados nestes cozidos os portugueses e descendentes de portugueses que viviam no Brasil no início do século XIX criaram a feijoada brasileira feita com feijão preto.

As primeiras referências documentadas à feijoada brasileira surgem a partir de 1830 e era prato servido na corte de Dom Pedro II e nos restaurantes do Rio de Janeiro, Pernambuco e São Paulo.

A Feijoada Completa - acompanhada de arroz branco, couve refogada no alho e bacon, farofa, torresmo, molho e laranja – foi uma criação do restaurante carioca G. Lobo, no final do século XIX e se tornou padrão por todo o Brasil e até mesmo em Portugal. E não se esqueçam da caipirinha e cerveja bem gelada, que harmonizam muito bem com a nossa feijoada!

Em cidades como Nova Iorque, Miami, Londres, Tóquio, Nagoya e Hamamatsu pode-se apreciar uma legítima Feijoada Brasileira nos restaurantes dos nossos patrícios que lá residem.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O surgimento da culinária brasileira

Fundação de São Vicente: Benedito Calixto


O Início da Colonização do Brasil

A colonização do Brasil começou em 1530 com a vinda, a mando da Coroa Portuguesa, de Martim Afonso de Souza ao Brasil com a tríplice missão de explorar a costa desde o Maranhão até o rio da Prata, impedir o comércio dos franceses e fundar os primeiros núcleos de população branca: São Vicente, a primeira vila (22 de janeiro de 1532), e Piratininga, esta em terra firme.

Martim Afonso de Souza mandou trazer à recém-fundada Vila de São Vicente figo, laranja, limão, melão, couve, agrião, espinafre, chicória, mostarda, coentro, trigo, hortelã, cebolinha, manjericão, alho, alfavaca, gengibre, arroz, cana de açúcar, temperos da índia, bois, vacas, touros, ovelhas, cabras, carneiros, porcos, galinhas e patos.

Foi em São Vicente, que os portugueses iniciaram a plantação da cana-de-açúcar, o cultivo da vinha, do trigo e de outras plantas, além da criação de gado, mandado vir das ilhas de Cabo Verde.
Em 1530, com a instalação da fábrica de doces, por Martim Afonso de Souza, doces como a laranjada, aboborada e a marmelada puderam ser apreciados. Aos poucos, a culinária paulista vai tomando forma, com a introdução de preparações à base de cana de açúcar, trigo, marmelo, laranja, figo e vinha de uva, além da carne de gado, inicialmente vinda de outras regiões e, posteriormente, criada em nossa região.

A culinária brasileira colonial primordial

Bandeirantes

Os portugueses são a maior influência na formação da culinária brasileira. A mandioca, o milho, os frutos e outros vegetais da nossa flora, assim como as caças e os peixes compõem a contribuição indígena e os produtos de origem africana foram trazidos ao Brasil pelos portugueses. Surge assim o que podemos chamar de culinária brasileira colonial primordial, na Vila de São Vicente, a primeira cidade brasileira, fundada em 21 de janeiro de 1532. Pelos dois séculos seguintes bandeirantes e tropeiros se incumbiram de difundir esta culinária pelo interior do Brasil. Da Vila de São Vicente para São Paulo de Piratininga e daí para toda a região compreendida pelos atuais estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná entradas, bandeiras, monções e tropas difundiram a culinária brasileira colonial primordial. Paralelamente, ao longo de toda a nossa costa surgem culinárias locais, baseadas nos produtos locais com destaque para o uso dos peixes e frutos do mar.

A mandioca
Os colonizadores aprenderam rápido com os indígenas a importância da mandioca na alimentação. Com a mandioca brava (Manihot esculenta), venenosa, faziam o beiju (tapioca) e a farinha. Esta última comia-se muito. Como prato único e completo ou acompanhando peixes e frutas. Os indígenas misturavam a farinha de mandioca ao caldo de carne para fazer o pirão.


As Frutas

Os indígenas não tinham o hábito de plantar frutas, já que dispunham fartamente de uma grande oferta natural: abacaxi, goiaba, cajá, maracujá, imbu, mamão, mangaba, caju entre outras. Caldos, bebidas e mingaus eram feitos com o cozimento da banana-da-terra ou pacova.
Os portugueses plantaram na Capitania de São Vicente o figo, a laranja, o limão, o melão, o marmelo, a cana-de-açúcar, o coco e as variedades africanas de banana, que serviam para se comer cruas. Nos engenhos a cana-de-açúcar se transformava em açúcar e melaço.
As mulheres portuguesas, aproveitando também do açúcar abundante dos engenhos, começaram a criar incontáveis tipos das mais variadas sobremesas.
Com os amendoins e as castanhas dos cajus as portuguesas faziam os doces que originalmente levavam amêndoas e pinhões em sua receita. Os cajus e as bananas-da-terra, cozidos com açúcar e canela ou secos ao sol, também davam deliciosas iguarias.

As massas de frutas ou marmeladas – porque inicialmente eram preparadas com o marmelo – passaram a ser feitas de uma enormidade de frutas como caju, banana, abacaxi, araçá, goiaba, oiti e curuanha.

O Milho

Inicialmente com o milho se fazia o angu, a pamonha, o curau e a canjica, que os portugueses incrementaram com o leite, o açúcar e a canela. Tempos depois começaram a produzir a farinha de milho usada para acompanhar outros alimentos, para fazer farofas e o cuscus.


Os Peixes, Moluscos e Crustáceos

A pesca, de peixes, moluscos e crustáceos, era realizada pelos indígenas com arco a pequenas distâncias, sem haver uma espécie mais apreciada que outras. Os maiores eram assados ou moqueados e os menores cozidos sendo o caldo utilizado para fazer pirão. Por vezes, secavam os peixes e socavam-nos até fazer uma farinha que podia ser transportada durante viagens e caçadas. Os peixes eram ensopados, grelhados na brasa ou enrolados em folhas, enterrados e cozidos sob um braseiro. Os colonizadores também apreciavam estes alimentos e os pratos preparados com eles.

As Carnes

As principais carnes eram as de mamíferos como o porco-do-mato, o queixada, o caititu, a paca, o veado, macacos e a anta. As aves silvestres eram também apreciadas. Os porcos, ovelhas, cabras, carneiros, galinhas e patos trazidos por Martim Afonso foram os primeiros animais de criação para consumo em terras brasileiras. Em 1534, Ana Pimentel, esposa de Martim Afonso de Sousa, mandou à Capitania de São Vicente bois, vacas e touros, enviados de Cabo Verde e que passariam a fazer parte da dieta, como carne fresca e conservada seca, salgada ou imersa em banha de porco. Assim os portugueses agregaram aos indígenas e escravos africanos o hábito de consumir leite vaca e de cabra e os ovos em doces e pratos salgados. Os indígenas já tinham o hábito de grelhar caças e foi assim que surgiu o churrasco gaúcho.

A Galinha ao Molho Pardo ou de Cabidela

A galinha ao molho pardo ou de cabidela, prato português com várias versões na Europa, era muito apreciado no Brasil e veio compor a culinária paulista à época da colonização.

O Porco

Os indígenas tinham na caça importante fonte de alimento. As principais carnes eram as de mamíferos como o porco-do-mato, o queixada, o caititu, a paca, o veado, macacos e a anta, que servia a comparações com o boi, a anta estrangeira. Eram preparadas com pele e vísceras, o pelo queimado pelo fogo e os miúdos, órgãos internos, depois retirados e repartidos. O porco doméstico e outras crias foram sendo adicionados à culinária paulista. Os paulistas em suas entradas, bandeiras e monções, levavam a carne suína e bovina cozidas e imersas em banha para consumo durante a viagem e, posteriormente, para abastecer as povoações das regiões das minas. Após levarem porcos vivos e galinhas para Vila Rica e os confins da grande Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro estes animais puderam ser criados localmente. Foi assim também com os feijões, o arroz, a cana-de-açúcar, o quiabo, a couve e outros alimentos. Estavam criadas as condições para o desenvolvimento da rica culinária mineira.
O leitão e o porco cozido ou frito na própria banha, assado no forno ou no braseiro eram tradições europeias assimiladas pela culinária paulista caipira.

Leitão Pururuca

O leitão pururuca deve ter surgido ainda no Brasil Colonia, e praticado em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, mas não temos registros precisos de onde e quando passou a ser elaborado.
Vaca Atolada
Prato simples feito com costela bovina (ou, na sua falta, outras carnes bovinas) cozida com mandioca mansa. A carne fica atolada no creme de mandioca, daí o nome do prato. Este prato surgiu em São Paulo e passou a fazer parte da culinária do Paraná e de Minas Gerais à medida que os desbravadores conseguiam fazer o gado bovino chegar a estas terras.


Os Feijões

Os feijões, que já eram utilizados pelos indígenas antes da chegada dos descobridores e escravos, tiveram seu espaço na dieta de portugueses e negros mas foi bem depois disso que veio a se tornar integrante essencial à alimentação. Os portugueses passaram a consumir o feijão nativo do Brasil, mas somente o brasileiro do século XVI assumiu o habito de consumo acompanhado de peixes e carnes. A farinha e o feijão são dois alimentos nativos brasileiros que constituem ainda hoje a base da nossa alimentação.


O Virado
Originalmente o virado era feito com feijão cozido com caldo ao qual se acrescentava farinha de mandioca. Era comida de comer com a mão. Aos bandeirantes que se embrenhavam pelas matas em busca das minas de ouro e ampliando o território brasileiro bastava levar o feijão e a farinha de mandioca para produzirem um alimento bastante nutritivo.


O Feijão Tropeiro
Tropeiro é a designação dada aos bandeirantes que conduziam as tropas, assim designadas as comitivas de muares e cavalos, que levavam ferramentas para garimpar, instrumentos agrícolas, alimentos, tecidos, açúcar, cachaça e outros bens da Vila de São Vicente e São Paulo para Vila Rica, Mariana e outras localidade da Capitania de São Paulo e das Minas de Ouro. De lá eles traziam o ouro que era fundido em barras em Taubaté para então ser enviado para Portugal. Os tropeiros também levavam as mulas criadas na região que é hoje o Estado do Rio Grande do Sul pra serem vendidas em Sorocaba. Aos tropeiros é atribuída a criação do prato denominado feijão tropeiro.
Para se fazer o feijão tropeiro deve-se fritar toucinho fresco ou defumado cortado em cubinhos com linguiça cortada em rodelas e reservar. O excesso de gordura é descartado e o que sobrar é usado para se fazer um refogado de alho e cebola ao qual se junta o toucinho e a linguiça fritos, feijão cozido com caldo e farinha de mandioca ou de milho ou uma mistura das duas. Cozinha-se bem, acerta-se o sal e pronto. Se quiser pode acrescentar cheiro verde picadinho.

O Tutu de Feijão

É uma variante do feijão tropeiro. A diferença é que no tutu o feijão é amassado (e hoje batido no liquidificador) reduzindo o feijão a uma pasta. De resto o jeito de fazer é praticamente igual ao feijão tropeiro.

Os Temperos

Os índios já tinham o hábito de usar pimentas e acrescentavam sal aos seus alimentos. A mostarda, o coentro, o hortelã, a cebolinha, o manjericão, o alho, a alfavaca, o cravo-da-índia e a canela foram trazidos pelos portugueses à Capitania de São Vicente. Da África eles trouxeram a erva-doce, o gengibre, o açafrão da terra e o gergelim. Cultivados em solo brasileiro seu uso se espalhou pelo Brasil e usados no preparo de pratos doces e salgados.

O Arroz

O arroz foi trazido ao Brasil e passou a ser cultivado na Capitania de São Vicente. Ele só passou a ser largamente consumido no século XVIII e, ainda assim, na consistência de papa ou pirão com água e sal para acompanhar carnes e peixes. A partir da contribuição dos negros, dos índios e dos brancos inúmeros pratos de arroz começaram a ser criados como o arroz de haussá, arroz de forno, arroz de cuxá e arroz de piqui entre outros. Em forma de doce temos ainda mingaus de arroz, bolos, pudins e o arroz doce feito de leite de gado ou coco.

O Cuscuz

O cuscuz, prato do norte da África, inicialmente era elaborado com sêmola de trigo. No Brasil Colonia era feito com farinha de mandioca e depois com farinha de milho. Os africanos o umedeciam com leite de coco e os portugueses com leite de vaca. Os paulistas desenvolveram uma versão salgada do prato.

A Cachaça e a Caipirinha

Os livros de história são unânimes em afirmar que o primeiro lugar a produzir aguardente foi a Capitania de São Vicente, onde hoje fica o estado de São Paulo, já que lá é onde estava instalado o primeiro engenho real de cana. Em 1584, Gabriel Soares faz o relato de que já existiam 8 casas de "cozer mel" como eram chamados os engenhos que produziam a cachaça, bem antes dos ingleses iniciarem a produção de rum no Caribe em um processo assemelhado.
Os escravos gostavam também da garapa, o caldo-de-cana não fermentado e quando possível animavam as festas com cachaça que até em parte dada para os espíritos do mortos. Os sucos de fruta misturado à cachaça originou a famosa "batida". A mais famosa era a batida-de-limão que podemos considerar como a a proto-caipirinha, faltando os pedaços de limão com casca que dariam a caipirinha o seu gosto original.
Pouco se conhece sobre a origem da caipirinha. Muito provavelmente, a mistura de cachaça, limão amassado, açúcar e gelo nasceu no interior do estado de São Paulo. Qualquer bebidas com ingredientes diferentes destes não deve e não pode ser chamada de caipirinha. É nosso dever não aceitar que se dê o nome de caipirinha a bebidas preparadas com vodka ou rum ou excentricidades absurdas como “caipirinha de saquê com lichia”. Caipirinha se faz com cachaça, limão tahiti ou galego, açúcar e gelo.

Outras culinárias do Brasil Colonial

Durante todo o Período Colonial em outras regiões do Brasil outras culinárias foram se desenvolvendo.

No Sul a expansão da criação do gado bovino determinou o desenvolvimento do churrasco gaúcho, que começou com a costela no fogo de chão e se diversificou em cortes e maneiras de assar a carne. O charque e o arroz de carreteiro também são contribuições gaúchas à nossa culinária.

No Norte temos a mais forte influência indígena na culinária local com o intenso uso da mandioca, dos peixes e da vegetação local.

No Bahia temos a mais forte influência africana com ênfase para a utilização dos peixes e frutos do mar, do coco e do leite de coco, do quiabo, do azeite de dendê e das pimentas.

No Nordeste acima da Bahia a rapadura, produzida nos engenhos de cana-de-açúcar, as carnes seca e de sol, os peixes, a sempre presente farinha de mandioca e outros vegetais locais deram identidade à culinária nordestina da época do Brasil Colônia.

A culinária mineira começa a assumir identidade própria a partir da criação da Capitania de Minas Gerais que se desligou da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro e teve como capital Vila Rica, hoje Ouro Preto.

A influência da vinda da família real nos hábitos de comer e beber dos brasileiros

Chegada da Família Real ao Brasil



Temendo a invasão de Napoleão a Portugal, o Príncipe D. João fugiu para o Brasil com uma caravana de aproximadamente quinze mil pessoas. Isso motivou a vinda de muitos ingredientes de Portugal ao Brasil para servir à corte como agradasse. Espécies brasileiras como o macuco, a galinhola, o marreco, a paca, o veado, a anta, a cutia e o porco-do-mato foram valorizadas. Novos alimentos surgiram como a carne de fumeiro, os embutidos e as frutas cristalizadas feitas com variedades brasileiras. O pão de trigo se tornou mais comum e usual e os cardápios passaram a incluir saladas.

As bebidas apresentavam exemplares do vinho português, do champagne e, o que mais se popularizava, a cerveja. Havia também o aluá feito da fermentação da casca do abacaxi.
A alimentação brasileira se diversificava com os vinhos franceses, cervejas, patês de foie gras, conservas, queijos, doces, novas frutas, licores ardentes e adocicados. Chá era bebida para ricos e o cacau exportado voltava como chocolate. Originaram-se as confeitarias, sorveterias e os primeiros restaurantes italianos e franceses.

O café tinha sua produção em alta e chegou a ser o produto mais exportado do Brasil e, naturalmente, seu uso se espalhou também internamente, chegando a dar nome à primeira refeição do dia.





segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Contribuições Africanas à Culinária Brasileira




Da África vieram o quiabo, inhame, erva-doce, gengibre, açafrão, gergelim, amendoim africano, melancia e outras variedades de coco e banana. A banana da terra , originária do Brasil e que era necessária ser cozida antes de consumir era pouco apreciada. A banana vinda da África e consumida in-natura como fruta logo se tornou popular era comida pura, com mel de cana ou de abelha, com açúcar mascavo ou com farinha.

Herança dos negros foi o gosto pelo azeite de dendê, já as mulheres portuguesas usavam muito o azeite doce (azeite de oliva) trazido de Portugal.

É muito importante ressaltar que não foram os escravos africanos que trouxeram os produtos alimentícios da África para o Brasil. Na verdade foram os portugueses que o fizeram. Os portugueses tiveram importante participação na “globalização” dos diferentes alimentos entre a Europa, as Índias, a África, as ilhas atlânticas e o Brasil.

O escravo era apresentado aos gêneros brasileiros antes mesmo de deixar a África, recebendo uma ração de feijão, milho, aipim, farinha de mandioca e peixes para a travessia. A base da alimentação escrava não variava de acordo com a função que fosse exercer, quer fosse nos engenhos, nas minas ou na venda. Essa base era a farinha de mandioca. Ela variava mais em função de seu trabalho ser urbano ou rural e de seu proprietário ser rico ou pobre. A alimentação dos escravos nas propriedades ricas incluía canjica, feijão-preto, toucinhocarne-secalaranjas, bananas, farinha de mandioca e o que conseguisse pescar e caçar; nas pobres era de farinha, laranjas e bananas. Nas cidades, a venda de alguns pratos poderia melhorar a alimentação do escravo através dos recursos extras conseguidos. Os temperos usados eram o açafrão, o óleo de dendê e o leite de coco. Este último tem sua origem nas Índias e seria usado na costa leste da África já no século XVI, sendo trazido para o Brasil aonde é utilizado para regar peixes, mariscos, o arroz-de-coco, o cuscuz, o mungunzá e ainda diversos outras iguarias.

Voltaremos ao tema para esclarecer melhor a real influência africana na culinária brasileira.

Contribuições Indígenas à Culinária Brasileira




A mandioca era o alimento base e compunha muitos dos alimentos que sustentavam os brasileiros do Brasil Colonia. Com a mandioca brava (Manihot esculenta), venenosa, faziam o beiju (tapioca) e a farinha. Esta última comia-se muito. Como prato único e completo ou acompanhando peixes, frutas, caldos, etc. Era indispensável ao indígena brasileiro. Adicionando o caldo gordo quente sobre a farinha de mandioca seca, os indígenas tinham o pirão escaldado. (LEAL, 1998, p. 66). A mandioca mansa (Manihot utilissima) era consumida cozida em pedaços, como creme e posteriormente também frita.

Além disso, também fazia parte da dieta indígena de então outros alimentos como a batata, a abóbora, o feijão, a fava, o amendoim, o cará e o milho. O amendoim era muitíssimo apreciado e era ingerido cru, assado ou cozido.

O uso da mandioca era mais difundido da Região Norte e Nordeste, e por toda a costa brasileira até o Sul. O consumo do milho se dava mais nas regiões interioranas do nosso território.

O hábito de plantar frutas não era comum entre os indígenas, já que dispunham fartamente de uma grande oferta natural: abacaxi, goiaba, cajá, maracujá, imbu, mamão, mangaba, caju entre outras. Caldos, bebidas e mingaus eram feitos com o cozimento da banana-da-terra ou pacova.

Um outro alimento base da dieta indígena eram os peixes que se aproveitavam cozidos ou assados. Curiosamente, quando eram assados inteiros não eram esvaziados e nem escamados antes. Produzia-se também dos peixes a farinha. Já com relação às caças, eram assadas com o couro e comidas semicruas. (LEAL, 1998, p. 67)

Hora determinada para as refeições não era parte da cultura indígena. Os índios se alimentavam quando sentiam necessidade. Sua preferência era o alimento assado ou tostado ao cozido e a fritura não era uma técnica conhecida. Os alimentos eram preparados separadamente, em recipientes distintos, ainda que fossem para ser comidos misturados.

Os feijões, que já eram utilizados pelos indígenas antes da chegada dos descobridores e escravos, tiveram seu espaço na dieta de portugueses e negros mas foi bem depois disso que veio a se tornar integrante essencial à alimentação. Os portugueses passaram a consumir o feijão nativo do Brasil, mas somente o brasileiro do século XVI assumiu o habito de consumo acompanhado de peixes e carnes. A farinha e o feijão são dois alimentos nativos brasileiros que constituem ainda hoje a base da nossa alimentação.

Um outro elemento essencial para os índios era um condimento: a pimenta. Comia-se verde ou madura; misturada com pescados ou legumes; ou ainda inteira ou amassada com farinha. Era, por si só, um alimento completo.

Já se via entre os índios a obtenção do sal pela retenção da água do mar ou pela queima da terra salitrosa e este sal com a pimenta transformava-se num molho especial que se acrescentava ao alimento somente no momento da ingestão para dar sabor. Com o alimento já na boca o índio colocava uma pitada do tal molho antes de mastigar e engolir a comida.

Panelas, espetos e moquéns – grelhas para assar sobre o fogo baixo o que deveria ser conservado – eram instrumentos já utilizados pelos índios na cozinha. Foi da prática dos índios de assarem nos espetos os peixes ou carnes a serem consumidos na hora, a origem do churrasco brasileiro.

Ainda uma outra técnica para assar os alimentos era utilizada, colocava-se num buraco na terra forrado com grandes folhas o alimento a ser assado e cobria-se também com folhas e terra, fazendo fogo sobre a cova.

As mulheres índias é que eram as responsáveis pela confecção das panelas, dos fornos de barro especiais e também pelo preparo das bebidas que eram feitas a partir da fermentação da mandioca, do aipim, da batata-doce e do milho. Fabricavam também o vinho de frutas como caju, ananás e jenipapo.

Havia também bebidas não fermentadas como a pamonha dissolvida em água, o xibé – uma mistura de farinha de mandioca com água – e a mistura deste com mel ou ovos de tartaruga que davam origem a novas bebidas. Existia ainda uma bebida feita com açaí amassado e farinha d’água. As bebidas dos índios sempre eram consumidas aquecidas. (LEAL, 1998, p. 69)

Contribuições Portuguesas à Culinária Brasileira


Sem dúvida nenhuma a culinária portuguesa é a matriz da culinária brasileira.
As influências indígenas e africanas deram também importante contribuição para a formação do perfil da culinária do Brasil.


A colonização do Brasil começou em 1530 com a vinda, a mando da Coroa Portuguesa, de Martim Afonso de Souza ao Brasil com a tríplice missão de explorar a costa desde o Maranhão até o rio da Prata, impedir o comércio dos franceses e fundar os primeiros núcleos de população branca: a Vila de São Vicente, a primeira vila (22 de janeiro de 1532), e posteriormente a Vila de São Paulo de Piratininga (25 de janeiro de 1554), a cidade de São Paulo.

Martim Afonso de Souza mandou trazer à recém-fundada Vila de São Vicente figo, laranja, limão, melão, couve, agrião, espinafre, chicória, mostarda, coentro, trigo, hortelã, cebolinha, manjericão, alho, alfavaca, gengibre, arroz, cana de açúcar, temperos da índia, bois, vacas, touros, ovelhas, cabras, carneiros, porcos, galinhas e patos.

Foi em São Vicente, que os portugueses iniciaram a plantação da cana-de-açúcar, o cultivo da vinha, do trigo e de outras plantas, além da criação de gado, mandado vir das ilhas de Cabo Verde.

Em 1530, com a instalação da fábrica de doces, por Martim Afonso de Souza, doces como a laranjada, aboborada e a marmelada puderam ser apreciados. Aos poucos, a culinária paulista vai tomando forma, com a introdução de preparações à base de cana de açúcar, trigo, marmelo, laranja, figo e vinha de uva, além da carne de gado, inicialmente vinda de outras regiões e, posteriormente, criada em nossa região.

Plantado no Brasil pelos portugueses, o arroz só passou a ser largamente consumido no século XVIII e, ainda assim, na consistência de pirão com água e sal para acompanhar carnes e peixes. A partir da contribuição dos negros, dos índios e dos brancos inúmeros pratos de arroz começaram a ser criados como o arroz de haussá, arroz de forno, arroz de cuxá, arroz de piqui, arroz de carreteiro, entre outros. Em forma de doce temos ainda mingaus de arroz, bolos, pudins e o arroz doce feito de leite de gado ou coco.

No tempero, o português deu outra grande contribuição à culinária da brasileira. Impôs o gosto pelo sal, quase não utilizado pelos índios e pelos africanos, e ensinou a salgar a carne para preservá-la. Cozinhar bem era e é “ter boa mão de sal”. Outras especiarias tornaram-se presentes, como o cravo-da-índia, a erva-doce, a canela e o alecrim.

Os portugueses, por sua vez, usavam e abusavam dos ovos, preparando-os das mais variadas maneiras: cozidos, fritos, moles, quentes e acrescentando a pratos indígenas tais como canjicas, mingaus e papas. E as mulheres portuguesas, aproveitando também do açúcar abundante dos engenhos, começaram a criar incontáveis tipos das mais variadas sobremesas.
Com os amendoins e as castanhas dos cajus as portuguesas faziam os doces que originalmente levavam amêndoas e pinhões em sua receita. Os cajus e as bananas-da-terra, cozidos com açúcar e canela ou secos ao sol, também davam deliciosas iguarias.

As massas de frutas ou marmeladas – porque inicialmente eram preparadas com o marmelo – passaram a ser feitas de uma enormidade de frutas como caju, banana, abacaxi, araçá, goiaba, oiti e curuanha.

O pão-de-ló ganhou surpreendente popularidade no Brasil e é um doce português. Para os negros sobravam os melaços, que era o mel da cana, a rapadura e o açúcar mascavo ou ainda a garapa – caldo da cana – que preparavam com água e melaço, podendo acrescentar suco de limão ou laranja. Com a farinha também se comia o mel da cana.

Do feijão brasileiro com carne-seca e toucinho mais o cozido que chegou de Portugal surgiu a feijoada, prato peculiarmente brasileiro e famoso mundialmente nos dias atuais. Nossa feijoada é, portanto, uma variação do cozido português e não comida de escravos feita com partes "menos nobres" do porco, como se divulgou por muito tempo.

Os livros de história são unânimes em afirmar que o primeiro lugar a produzir aguardente foi a Capitania de São Vicente, onde hoje fica o estado de São Paulo, já que lá é onde estava instalado o primeiro engenho real de cana. Em 1584, Gabriel Soares faz o relato de que já existiam 8 casas de "cozer mel" como eram chamados os engenhos que produziam a cachaça, bem antes dos ingleses iniciarem a produção de rum no Caribe em um processo assemelhado.

Terra Brasilis: um mapa de nossas terras de 1519


Terra Brasilis - 1519 - integrante do chamado "Atlas Miller", atribuído a Lopo Homem-Reinéis, atualmente na Biblioteca Nacional de França, em Paris. Trata-se de uma carta, manuscrita sobre pergaminho, com detalhada nomenclatura em latim (cento e quarenta e seis nomes), mostrando a costa brasileira desde o Maranhão até ao rio da Prata. As ricas iluminuras mostram os indígenas, alguns envolvidos na atividade de exploração de pau-brasil. Um escudo de armas ao norte (atual Guiana Francesa) e outro ao sul (atual Argentina), assinalam os domínios de cada Coroa Ibérica.